7 de abril de 2009

A matemática do divórcio


A felicidade no casamento é uma questão de sorte. Por mais profundo que seja o conhecimento mútuo ou identidade entre as partes interessadas antes do enlace, em nada contribui para a felicidade", diz uma das personagens da inglesa Jane Austen (1775-1817), no romance Orgulho e Preconceito, de 1796. "Quanto menos se conhecerem os defeitos daquele com quem se vai passar o resto da vida, tanto melhor será". Austen não teve a chance de comprová-lo, pois nunca se casou. Naquela época, e até poucas décadas atrás, não havia a alternativa da separação. Amando-se ou odiando-se, os casais eram obrigados a dividir o mesmo teto pelo resto da vida. Por isso, James Murray se considera um homem de sorte. Este simpático escocês de 78 anos está para completar 50 anos de casamento. "Minha mulher e eu temos muita sorte", diz Murray. A sorte à qual Murray se refere não tem nada a ver com as armadilhas do destino ou com um fortuito encontro de almas. Para Murray, sorte é a probabilidade estatística da ocorrência ou não de um evento qualquer – no caso, ser feliz no casamento. Quem conhece mais de estatística do que um matemático? Murray defende que todos os casais poderiam descobrir, antes de casar, qual é a probabilidade matemática do casamento dar certo. "Não tenho a menor dúvida de que a chance de um casal permanecer casado ou se separar pode ser descoberta antes do casamento", disse a ÉPOCA este professor aposentado de matemática da Universidade de Oxford, na Inglaterra, atualmente na Universidade de Washington, em Seattle, nos Estados Unidos.
A confiança de Murray é pautada nos resultados de uma pesquisa iniciada em 1992, e que acompanhou 350 casais americanos ao longo de 20 anos. "Nossas previsões sobre as relações matrimoniais se mostraram surpreendentemente acuradas", diz Murray. "Entre os casais cuja previsão era de ocorrer o divórcio num período de quarto anos, obtivemos 94% de acerto." O trabalho foi liderado por Murray e seu colega John Gottman, professor de Psicologia da Universidade de Washington e autor de Casamentos – Por que alguns dão certo e outros não (editora Objetiva). Antes de cada casamento, quando os noivos se diziam apaixonados e afirmavam que a união seria para sempre, eles foram reunidos em uma sala para responder a uma série de perguntas. Os temas incluíam sexo, dinheiro, o cuidado com os filhos, o lugar certo do assento da privada, a temperatura ideal do ar-condicionado ou do aquecedor, e se as roupas da mulher faziam com que ela parecesse mais gorda. A pontuação era dada para cada resposta de acordo com a civilidade, a calma e a habilidade do casal influenciar um ao outro. Se o homem respondia de forma crítica e grosseira ou se a mulher se revelava mandona e manipuladora, ambos recebiam a nota menos quatro (-4). Se eles conseguiam evitar uma discussão, rebatendo argumentos recíprocos com bom humor, a nota era mais dois (+2). Qualquer forma de falta de respeito recebeu a nota menos três (-3). As entrevistas foram gravadas, a pontuação das conversas foi somada e jogada em duas equações, uma para o homem e outra para a mulher. Feitos os cálculos, as duas equações foram comparadas. Quanto maior fosse a diferença entre os resultados, maior seria a chance de o casal se separar. De acordo com os resultados, os 350 casais foram classificados em cinco categorias. Os casais estáveis tendiam a compartilhar experiências, ser calmos e se apoiar mutuamente. Outra categoria reuniu os casais que procuram evitar confrontos, varrendo os problemas para baixo do tapete. Uma terceira categoria era a dos casais voláteis, cuja essência da relação é apaixonada, cheia de altos e baixos. Havia ainda os casais hostis, entre os quais só uma das partes buscava a solução dos problemas, enquanto a outra, não. Já entre os casais com menos envolvimento emocional, durante uma briga, uma das partes estaria pronta para jogar pratos no chão, enquanto a outra sairia pela porta da frente ou se isolaria na frente da tevê. Uma vez terminada a pesquisa, a cada dois anos e durante um período de 12 anos, os estudiosos procuraram cada casal entrevistado para saber a quantas andava o casamento. Assim, podiam confrontar a realidade dos fatos com as previsões matemáticas feitas na pesquisa. Foi quando Murray constatou que havia acertado em 94% das previsões de divórcio. Os resultados da pesquisa foram publicados no livro The Mathematics of Marriage (A Matemática do Casamento), de 2003. Murray acredita que suas fórmulas poderiam evitar a consumação de casamentos que acabam terminando em baixaria "e pratos lançados contra a parede". Ele gostaria de ver o modelo aplicado aos casais americanos quando estes requerem a licença para poder se casar. Esta licença não existe no Brasil, mas é obrigatória nos Estados Unidos. "Conhecer as chances de sucesso ou fracasso de um casamento economizaria anos de frustração, brigas, despesas com terapia de casal e advogados", diz Murray. Sem falar na dor de cabeça da partilha dos bens e no sofrimento imposto aos filhos. Uma outra constatação da pesquisa é o segredo da felicidade dos homens casados. O estudo mostrou que os homens mais felizes no casamento são aqueles que fazem o que as suas mulheres dizem. Mas não era preciso nenhuma equação para descobrir isso, era?
Infelizmente, o teste não se encontra à disposição online. A pesquisa foi encerrada em 2003, e seus resultados foram publicados no livro de Murray e Gottman: The Mathematics of Marriage: Dynamic Nonlinear Models (421 páginas, The MIT Press).
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fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI67261-15228,00-A+MATEMATICA+DO+DIVORCIO.html

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